Recentemente eu fiz uma série de publicações no LinkedIn, que eu chamei de Quebra Gelo, uma curadoria de assuntos interessantes pra puxar papo no elevador ou ocupar os primeiros cinco minutos de uma reunião online, enquanto esperamos todo mundo entrar.
A ideia veio do nada. Eu estava no LinkedIn, uma rede que eu acho bem chata, vendo todas as publicações de novos cargos, certificados e lições importantes que a série X pode te ensinar sobre Marketing. Eu entendo a proposta, eu mesma me autopromovo lá de vez em quando. Estudos, promoções e competências técnicas são partes importantíssimas da nossa persona corporativa. Mas não é tudo, né?
E é isso que me irrita no LinkedIn. Tudo vira trabalho.
A pessoa assiste um filme de terror e posta sobre o que ele ensinou de gestão e liderança. Coloca os filhos de castigo e posta uma reflexão profunda sobre como a nova geração vai ser diferente no mercado. Tropeça na rua e tem uma ideia revolucionária para uma startup que vai mudar o mundo. Tudo tem que virar um projeto, um produto, um insight, uma skill. Tudo tem que ser útil pro trabalho. Me irrita profundamente.
É óbvio que as nossas experiências e vivências afetam o nosso trabalho, porque nos afetam e nós não desligamos nosso repertório pessoal quando batemos ponto. Pode ser que uma boa ideia para um produto surja enquanto você tá levando seu cachorro pra passear, eu aceito isso. O que me irrita é ficar ativamente conectando tudo com o contexto de trabalho. Tira a espontaneidade das experiências.
Eu passo muito tempo dos meus dias consumindo coisas não relacionadas ao meu trabalho. Constantemente meus colegas e amigos me procuram perguntando sobre algum assunto que está “em alta”. É sempre algo assim:
Manu, você que sempre sabe de tudo que tá acontecendo, o que é esse assunto XYZ? Resume pra mim?
Confesso que nem sempre isso me bateu positivamente. Já pensei que “todo mundo me vê como uma pessoa muito à toa”. Levei até pra terapia, achando que eu deveria fazer um rebranding pessoal. Mas ultimamente eu tenho visto por um outro ângulo. Acho que, na verdade, me torna uma pessoa interessante. É uma característica que me ajuda a evitar algumas coisas que me apavoram:
- Silêncios constrangedores
- Papinho furado sobre clima e outros tópicos genéricos
- Me sentir despreparada numa interação social
Saber que eu tenho um repertório amplo de referências me deixa tranquila pra encarar qualquer tipo de situação social. Eu sinto que sou capaz de conversar com qualquer pessoa, sobre qualquer coisa, por pelo menos 10 minutos. É uma habilidade boa, vai.
E aí, bom, me irritei com o LinkedIn pela milésima vez e resolvi que ia tentar algo diferente. Tive a ideia numa segunda-feira, 21h, numa aula da pós-graduação, e fiz o primeiro post no dia seguinte, pela manhã, sem pensar muito.
O feedback foi muito legal. Vários amigos e colegas de trabalho vieram comentar que acharam divertido, diferente, e que eu tinha conseguido criar algo que era totalmente a minha cara. Alguns até entraram em reuniões comigo e usaram tópicos dos posts pra “quebrar o gelo”. Me incentivaram a postar mais, e assim eu fiz.
Eu abri um documento em branco e comecei a rascunhar um “planejamento editorial”. Seriam duas edições semanais, uma mais extensa e detalhada na terça-feira, e uma reduzida na sexta-feira, especial para o happy hour. Listei ideias para edições temáticas. Poderia virar uma newsletter, daria pra escrever mais. Fui estudar o Substack e outras plataformas. Eu até criei um perfil no Instagram, pra guardar o username, caso eu decidisse transformar em algo maior.
E assim, sem que eu percebesse, começou a virar trabalho.
Eu só percebi quando contei pra minha psicóloga que eu tinha criado todo esse planejamento, e ela, assustada, me disse: mas não era pra ser despretensioso? Essa pergunta alugou mansões na minha cabeça, me assustei. Me irritei comigo, mas já passou.
Eu não estou imune aos efeitos dessa “produtização” de tudo o que fazemos, mas acho que estar consciente disso já vai me ajudar a dosar a intensidade. A criação do Quebra Gelo foi espontânea, não foi nada planejado, mas quando começou a ganhar corpo, automaticamente eu transformei num projeto, e isso colocou peso no processo.
Publiquei 5 edições do Quebra Gelo, mas entrei em semana de provas na pós e precisei viajar a trabalho, não tive tempo pra escrever. Acho que eu nem procurei muito tempo também. Não queria que virasse mais uma coisa que eu “tenho que fazer”. Já faz um mês desde o último post.
Não decidi ainda se vou continuar com o mesmo formato. Acho que o LinkedIn não é o melhor lugar pro tipo de conteúdo que eu curto, e tudo bem. Uma coisa que eu vi é que existe um público pra esse conteúdo, então vale continuar. Se vai virar algo maior, não sei. Mas vou tentar levar sem peso. Eu quero continuar escrevendo, continuar fazendo algo que seja a minha cara. Talvez aqui seja o lugar pra isso.
Não era a ideia inicial, mas esse virou o post inaugural do blog. Ainda não tenho um planejamento editorial pra cá, só uma longa lista de ideias e coisas que me motivam a escrever. Eu não prometo constância, mas prometo consistência.
Nesse blog, você vai encontrar um pouco de tudo que passa pela minha cabeça, e por aqui passa muita coisa, viu? Acho que deu pra perceber por esse primeiro post.
Talvez seja fútil, talvez seja útil, com certeza vai ser interessante!